Friday, December 5, 2008

GM to the American taxpayer

The following ad, which is on GM's site will appear in print the same day American congress may begin voting on as much as $34 billion in U.S. assistance for GM, Ford Motor Co. and Chrysler

GM's Commitment to the American People

We deeply appreciate the Congress considering General Motors’ request to borrow up to $18 billion from the United States. We want to be sure the American people know why we need it, what we’ll do with it and how it will make GM viable for the long term.

For a century, we have been serving your personal mobility needs, providing American
jobs and serving local communities. We have been the U.S. sales leader for 76
consecutive years. Of the 250 million cars and trucks on U.S. roads today, more than 66
million are GM brands — nearly 44 million more than Toyota brands. Our goal is to
continue to fulfill your aspirations and exceed your expectations.

While we’re still the U.S. sales leader, we acknowledge we have disappointed you. At
times we violated your trust by letting our quality fall below industry standards and our
designs become lackluster. We have proliferated our brands and dealer network to the
point where we lost adequate focus on our core U.S. market. We also biased our product
mix toward pick-up trucks and SUVs. And, we made commitments to compensation
plans that have proven to be unsustainable in today’s globally competitive industry. We
have paid dearly for these decisions, learned from them and are working hard to correct
them by restructuring our U.S. business to be viable for the long term.

Today, we have substantially overcome our quality gap; our newest designs like the
Chevrolet Malibu and Cadillac CTS are widely heralded for their appeal; our new
products are nearly all cars and “crossovers” rather than pick-ups and SUVs; our factories
have greatly improved productivity and our labor agreements are much more competitive.
We are also driven to lead in fuel economy, with more hybrid models for sale and
biofuel-capable vehicles on the road than any other manufacturer, and determined to
reinvent the automobile with products like the Chevrolet Volt extended-range electric
vehicle and breakthrough technology like hydrogen fuel cells.

Until recent events, we felt the actions we’d been taking positioned us for a bright future. Just a year ago, after we reached transformational agreements with our unions, industry
analysts were forecasting a positive GM turnaround. We had adequate cash on hand to
continue our restructuring even under relatively conservative industry sales volume
assumptions. Unfortunately, along with all Americans, we were hit by a “perfect storm.”
Over the past year we have all faced volatile energy prices, the collapse of the U.S.
housing market, failing financial institutions, a stock market crash and the complete
freezing of credit. We are in the midst of the worst economic crisis since the Great
Depression. Just like you, we have been severely impacted by events outside our control.
U.S. auto industry sales have fallen to their lowest per capita rate in half a century.
Despite moving quickly to reduce our planned spending by over $20 billion, GM finds
itself precariously and frighteningly close to running out of cash.

This is why we need to borrow money from U.S. taxpayers. If we run out of cash, we
will be unable to pay our bills, sustain our operations and invest in advanced technology.

A collapse of GM and the domestic auto industry will accelerate the downward spiral of
an already anemic U.S. economy. This will be devastating to all Americans, not just GM
stakeholders, because it would put millions of jobs at risk and deepen our recession. By
lending GM money, you will provide us with a financial bridge until the U.S. economy
and auto sales return to modestly healthy levels. This will allow us to keep operating and
complete our restructuring.

We submitted a plan to Congress Dec. 2, 2008, detailing our commitments to ensure our
viability, strengthen our competitiveness, and deliver energy-efficient products.

Specifically, we are committed to:
• produce automobiles you want to buy and are excited to own
• lead the reinvention of the automobile based on promising new technology
• focus on our core brands to consistently deliver on their promises
• streamline our dealer network to ensure the best sales and service
• ensure sacrifices are shared by all GM stakeholders
• meet appropriate standards for executive pay and corporate governance
• work with our unions to quickly realize competitive wages and benefits
• reduce U.S. dependence on imported oil
• protect our environment
• pay you back the entire loan with appropriate oversight and returns
These actions, combined with a modest rebound of the U.S. economy, should allow us to
begin repaying you in 2011.

In summary, our plan is designed to provide a secure return on your investment in GM’s
future. We accept the conditions of your loan, the commitments of our plan, and the
results needed to transform our business for long-term success. We will contribute to
strengthening U.S. energy and environmental security. We will contribute to America’s
technical and manufacturing know-how and create high quality jobs for the “new
economy.” And, we will continue to deliver personal mobility freedom to Americans
using the most advanced transportation solutions. We are proud of our century of
contribution to U.S. prosperity and look forward to making an equally meaningful
contribution during our next 100 years.

Monday, December 1, 2008

Kevin's cool

 

O sol saiu em Itajaí

Meus amigos,

Hoje 27 de novembro de 2008 o sol saiu e conseguimos voltar a trabalhar. A despeito de brincadeiras e comentários espirituosos normais sobre esta "folga forçada" a verdade é que nunca me senti tão feliz de voltar ao trabalho. Não somente pelo trabalho, pela instituição e pela própria tranqüilidade de ter aonde ganhar o pão, mas também por ser um sinal de que a vida está voltando ao normal aqui na nossa Itajaí.

As fotos que circulam na internet e os telejornais já nos dão as imagens claras de tudo que aconteceu então não vou me estender narrando e descrevendo as cenas vistas nestes dias. Todos vocês já sabem de cor. Eu quero mesmo é falar sobre lições aprendidas.

Por mais que teorias e leituras mil nos falem sobre isso ainda é surpreendente presenciar como uma tragédia desse porte pode fazer aflorar no ser humano os sentimentos mais nobres e os seus instintos mais primitivos. As cenas e situações vividas neste final de semana prolongado em Itajaí nos fizeram chorar de alegria, raiva, tristeza e impotência. Fizeram-nos perder a fé no ser humano num segundo, para recuperar-la no seguinte.

Que aquela entidade superior que cada um acredita (Deus, Alá, Buda, GADU etc.) e da forma que cada um a concebe tenha piedade daqueles:

- Que se aproveitaram a situação para fazer saques em Supermercados, levando principalmente bebidas e cigarros
- Que saquearam uma farmácia levando medicamentos controlados, equipamentos e cofres e destruindo os produtos de primeira necessidade que ficaram assim como a estrutura física da mesma.
- Que pediam 5 reais por um litro de água mineral.
- Que chegaram a pedir 150 reais por um botijão de gás.
- Que foram pedir donativos de água e alimentos nas áreas secas pra vender nas áreas alagadas.
- Que foram comer e pegar roupas nos centros de triagem mesmo não tendo suas casas atingidas.
- Que esperaram as pessoas saírem das suas casas para roubarem o que restava.
- Que fizeram pessoas dormir em telhados e lajes com frio e fome para não ter suas casas saqueadas.
- Que não sentiram preocupação por ninguém, algo está errado em seu coração.
- Que simplesmente fizeram de conta que nada acontecia, por estarem em áreas secas.

Da mesma forma, que essa mesma entidade superior abençoe:


- Aqueles que atenderam ao chamado das rádios e se apresentaram no domingo no quartel dos bombeiros para ajudar de qualquer forma.
- Os bombeiros que tiveram paciência com a gente no quartel para nos instruir e nos orientar nas atividades que devíamos desenvolver.
- A turma das lanchas, os donos das lanchinhas de pescarias de fim de semana que rapidamente trouxeram seus barquinhos nas suas carretas e fizeram tanta diferença.
- À equipe da lancha, gente sensacional que parecia que nos conhecíamos de toda uma vida.
- Aos soldados do exército do Paraná e do Rio Grande do Sul.
- Aos bravos gaúchos, tantas vezes vitimas de nossas brincadeiras que trouxeram caminhões e caminhões de mantimentos.
- Aos cadetes da Academia da Polícia Militar que ainda em formação se portaram com veteranos.
- Aos Bombeiros e Policias locais que resgataram, cuidaram , orientaram e auxiliaram de todas as formas, muitas vezes com as suas próprias casas embaixo das águas.
- Aos Médicos Voluntários.
- Às enfermeiras Voluntárias.
- Aos bombeiros do Paraná que trabalharam ombro a ombro com os nossos.
- Aos Helicópteros da Aeronáutica e Exercito que fizeram os resgates nos locais de difícil acesso.
- Aos incansáveis do SAMU e das ambulâncias em geral, que não tiveram tempo nem pra respirar.
- Ao pessoal do Helicóptero da Polícia Militar de São Paulo, que mostrou que longo é o braço da solidariedade.
- Ao pessoal das rádios que manteve a população informada e manteve a esperança de quem estava isolado em casa.
- Aos estudantes que emprestaram seus físicos para carregar e descarregar caminhões nos centros de triagem.
- Às pessoas que cozinharam para milhares de estranhos.
- Ao empresário que não se identificou e entregou mais de mil marmitex no centro de triagem.
- A todos que doaram nem que seja uma peça de roupa.
- A todos que serviram nem que seja um copo de água a quem precisou.
- A todos que oraram por todos.
- Ao Brasil todo, que chorou nossos mortos e nossas perdas.
- Aos novos amigos que fiz no centro de triagem, na segunda-feira.
- A todos aqueles que me ligaram preocupados com a gente.
- A todos aqueles que ainda se preocupam por alguém.
- A todos aqueles que fizeram algo, mas eu não soube ou esqueci.

AMG

Começar de novo

Há alguns anos, numa grande enchente na Argentina, um anônimo escreveu isto:

Eu tinha medo da escuridão
Até que as noites se fizeram longas e sem luz
Eu não resistia ao frio facilmente
Até passar a noite molhado numa laje
Eu tinha medo dos mortos
Até ter que dormir num cemitério
Eu tinha rejeição por quem era de Buenos Aires
Até que me deram abrigo e alimento
Eu tinha aversão a Judeus
Até darem remédios aos meus filhos
Eu adorava exibir a minha nova jaqueta
Até dar ela a um garoto com hipotermia
Eu escolhia cuidadosamente a minha comida
Até que tive fome
Eu desconfiava da pele escura
Até que um braço forte me tirou da água
Eu achava que tinha visto muita coisa
Até ver meu povo perambulando sem rumo pelas ruas
Eu não gostava do cachorro do meu vizinho
Até naquela noite eu o ouvir ganir até se afogar
Eu não lembrava os idosos
Até participar dos resgates
Eu não sabia cozinhar
Até ter na minha frente uma panela com arroz e crianças com fome
Eu achava que a minha casa era mais importante que as outras
Até ver todas cobertas pelas águas
Eu tinha orgulho do meu nome e sobrenome
Até a gente se tornar todos seres anônimos
Eu não ouvia rádio
Até ser ela que manteve a minha energia
Eu criticava a bagunça dos estudantes
Até que eles, às centenas, me estenderam suas mãos solidárias
Eu tinha segurança absoluta de como seriam meus próximos anos
Agora nem tanto
Eu vivia numa comunidade com uma classe política
Mas agora espero que a correnteza tenha levado embora
Eu não lembrava o nome de todos os estados
Agora guardo cada um no coração
Tínhamos um rio
Agora somos parte dele
É de manhã, já saiu o sol e não faz tanto frio
Graças a Deus
Vamos começar de novo.

Anônimo

O cinema do monóculo

“Testemunha de Acusação” e o olhar clássico hollywoodiano sobre seus personagens
condensado e adaptado de: Larissa Pontez, "O cinema do monóculo", 2008.

podem ficar com a realidade

esse baixo astral

em que tudo entra pelo cano

eu quero viver de verdade

eu fico com o cinema americano

Paulo Leminski

Cinema Clássico. O próprio termo “clássico” já transmite uma idéia de fixo, imutável, emblemático de um tempo passado, mas que influencia e estabelece parâmetros para o que sucede, por tratar-se de algo universal e, assim, imortal, como as proporções gregas e as sinfonias de Mozart. Portanto, a nomenclatura de um tipo de cinema como clássico revela sua importância entre seus pares.

Outro ângulo pelo qual o termo é entendido é como algo preso às suas bases, conservador, resistente a mudanças e inovações. Mas o simples fato de o chamado Cinema Clássico Hollywoodiano tratar-se de um período tão abrangente (aproximadamente da década de 1910 aos anos 60), durante o qual ocorreram as duas Grandes Guerras, uma crise econômica mundial, a Guerra Fria, a Guerra do Vietnã, e inúmeras inovações tecnológicas, entre outras fundamentais transformações, torna ao mesmo tempo realistas e imprecisas as asserções de que esse cinema é tanto “imortal”, quanto profundamente arraigado às suas tradições: realistas, à medida que ele de fato definiu as linhas formais e estilísticas que perduram até hoje e que separam o “cinema canônico” de qualquer outro tipo de cinema que fuja a elas; e imprecisas, já que nenhuma forma de arte poderia permanecer imutável em um período tão dinâmico e turbulento.

Se o cinema canônico passou por poucas reformas nos seus alicerces formais, seu conteúdo sofreu, a cada transformação mundial, profundos conflitos. A “Era de Ouro” do cinema norte-americano, em que os grandes estúdios produziam com dinamismo industrial e os filmes de gênero atingiam seu ápice, durou, para alguns teóricos, aproximadamente até o final da Segunda Guerra Mundial. A discrepância, inédita até o final da década de 1940, entre os filmes elogiados pela crítica e emblemáticos da época – “À Beira do Abismo”, de Howard Hawks, 1946; “Sangue de Herói”, de John Ford; “A dama de Shanghai”, de Orson Welles, 1948, entre outros – e aqueles que, na ocasião, fizeram sucesso de bilheteria, é indicativa do gradual declínio do modelo hollywoodiano clássico. Essa fragmentação do público, que até os anos 40 era massificado incentivou a produção de filmes “pré-vendidos”, ou seja, baseados em livros, histórias, peças, etc., que já eram sucesso de vendas.

Bem-sucedido nesse momento de crise do sistema, Billy Wilder era um representante do modelo almejado pela indústria, geralmente fazendo filmes propositalmente sem conotações políticas, dirigidos às massas. Estilisticamente, é um dos diretores mais aclamados e representativos do formalismo técnico hollywoodiano. Apesar de defender ao máximo a chamada invisibilidade do aparato cinematográfico, em 1950 Wilder já era considerado um auteur dentro do sistema de estúdios, um autor que executava com maestria os princípios do cinema canônico.

Seu filme “Testemunha de Acusação” (1958) parece, a princípio, apenas mais uma adaptação, de uma peça surpreendente de Agatha Christie, apenas um filme onde o aprumo estilístico (da decupagem, da atuação, da direção de arte, etc.) fica evidente. Sob análise cuidadosa, entretanto, percebe-se uma reflexão sobre a capacidade de o cinema clássico espelhar, representar e se comunicar com o público desse período. Não apresenta inovações formais, como o cinema de vanguarda. Parte da própria gramática canônica, utilizando a gama de artifícios técnicos para investigar a eficácia do modelo narrativo clássico e seu iminente declínio.

A história trata de um caso de assassinato, em que a testemunha-chave – que testemunhará pela acusação – é a esposa do réu. No entanto, como na grande maioria dos clássicos hollywooodianos, o elemento central do filme são as ações e relações entre personagens, não sua dinâmica e seus conflitos psicológicos.

Em um período em que pouco era atribuído ao inconsciente das pessoas, Virginia Woolf ainda era considerada uma escritora "difícil" e Joyce, impossível, o cinema,que, com os anos, passou a ser visto por tantos teóricos como uma das formas de arte que mais agem dentro desse inconsciente, em seu modelo clássico, pouco falava do universo interior de seus personagens. Os filmes eram guiados pelas relações entre os indivíduos, deixando o espectador em uma posição não de observador onisciente, mas de alguém dentro da história, que acompanha e desvenda a narrativa pelas ações e palavras de seus personagens, cujas motivações não são divulgadas ou esclarecidas. Nesse sentido, o cinema clássico se aproximava muito mais da vida real, na qual cabe a cada um depreender as intenções alheias, do que da novela oitocentista, cujos narradores ofereciam uma exposição ilimitada das mentes de seus personagens.

Se “Testemunha de Acusação” fosse realizado hoje, o cinema e seu público exigiriam uma análise psicológica muito mais profunda e detalhista para uma história em que as verdadeiras intenções dos protagonistas (Christine e Vole) são completamente invertidas no final.

O filme abre com um travelling in, utilizado, como em tantos outros casos, para localizar e transpor o espectador para dentro do universo no qual transcorrerá a história: nesse caso, a Corte Criminal de Londres. Essa cena será repetida no terceiro ato, quando o júri se prepara para dar o veredicto.

A música inicial é um leitmotif que acompanha elementos representativos da justiça, como o brasão sobre a bancada do juiz no fim dos créditos iniciais. Porém, quando retorna, é sobre a imagem de uma estátua da Justiça em reforma, como uma metáfora kafkaniana de que o processo de justiça é o antagonista do filme, no qual tanto Vole quanto Wilfrid confiam. É a protagonista, Christine, que assumidamente desconfia e se opõe a esse sistema, burlando-o, tomando um caminho próprio e inesperado para salvar seu marido. E ao final do filme, quando a deficiência da justiça é comprovada, Wilfrid compreende que, ao executar – “não matar” – o marido, Christine está preenchendo a falha causada pelo sistema, reequilibrando a balança. Eles são, nessa cena, através de uma ainda mais sutil metáfora visual, cúmplices. O monóculo em que Wilfrid tanto confiava para determinar a honestidade das pessoas já lhe é obsoleto e ineficaz. Ele balança-o como um pêndulo, sem mirá-lo em ninguém. Porém, como um sinal para Christine, a luz que reflete na lente incide sobre a faca, anteriormente um instrumento na defesa do marido, com a qual ele será morto.

Vole e Christine são, até o desfecho do filme, quase caricaturas de si mesmos, mas integrados a um universo de personagens alegóricos (o herói vitimizado, a femme fatale, o sábio-bufão, a “ruffiana” enfermeira), e por isso são aceitos como familiares. Seus nomes variam quase a cada cena: Vole também é chamado de Leonard, Mr. Vole, o acusado, o prisioneiro; Christine é, além de Mrs. Vole, também Mrs. Helm, Frau Helm, e a própria testemunha de acusação. A volúvel identificação desses personagens sinaliza seus desdobramentos e transformações.

Christine, no entanto, é um caso ainda mais singular. Talvez tão importante quanto a linguagem canônica e o sistema de estúdios do período clássico seja o star system, que jamais voltou a ter o mesmo prestígio que teve na Era de Ouro. Sobre ele, David Bordwell escreve:

A estrela reforçava a tendência à caracterização fortemente definida e unificada. [...] como o personagem ficcional [a estrela] já possuía um conjunto de características salientes que preenchiam as necessidades da história.

Tendo como ponto de partida essa visão amalgamada de personagem-estrela, Herbert Feinstein não está sozinho quando, em 1958, referiu-se a Christine como a própria atriz:

Marlene Dietrich interpreta uma Testemunha de acusação traiçoeira e duas-caras. [...] parece inútil discutir esses personagens [...] sob nomes fictícios, já que – para uma mulher – essas femmes fatales conseguem, inexoravelmente, interpretarem a si mesmas.

Dos diversos arquétipos que revolviam as estrelas, a aura da femme fatale simbolizava a mulher sinônimo de ruína. Frígida, calculista e intocável, ela arquiteta a destruição dos homens que a vêem como objeto de desejo inatingível e, como a própria Christine alega, “veneram o chão onde ela pisa”. Como Mary Ann Doane comenta:

Seria um erro ver [a femme fatale] como uma heroína da modernidade. Ela não é sujeita do feminismo, mas um sintoma dos medos masculinos sobre o feminismo.

Em oposição a ela, as heroínas eram frágeis e puras. Essas características eram reforçadas pela fotografia, que lhe dava um aspecto angelical. Wilder utiliza esses cânones da técnica cinematográfica para apontar à verdadeira personalidade de Christine. Ao ser supostamente desmascarada por Wilfrid, ela chora no banco das testemunhas. É então que a luz que a ilumina, faz o mesmo efeito das heroínas do melodrama e do filme noir: Ela está se sacrificando pelo amado. Seguindo os arquétipos clássicos, em “Testemunha de Acusação” Dietrich seria não uma femme fatale, mas uma diva, uma mulher que desconhece seus efeitos acidentalmente destruidores.

Mas a mentalidade do star system estava tão arraigada nos espectadores do período que, mesmo após a traição de Vole e a validação das ações de Christine por Wilfrid, Feinstein ainda via Dietrich como a vilã.

Conhecendo plenamente as propriedades alegóricas e familiares que as estrelas produziam na platéia, Wilder utiliza o próprio star system para quebrar esses paradigmas, a fim de produzir o final surpreendente: o espectador antecipa que Christine trairá seu marido, mas ela será a verdadeira heroína trágica que luta para salvar seu amado sem, contudo, conquistar seu final feliz. Se Tyrone Power (Vole) é um dos “príncipes encantados” do cinema clássico, ele será o traidor assassino. A surpresa dessas inversões das identidades não só dos personagens, mas, para o público, dos próprios atores, só poderia ter tal impacto na Era do Cinema Clássico Hollywoodiano.

Como o espectador clássico, Sir Wilfrid também é abalado pela revelação dos protagonistas. A razão pela qual ele prezava tanto a vida do cliente era porque estava, desde o início, convicto de sua inocência, pois estava confiante nos métodos de avaliação e investigação que estava acostumado a usar. O público tenta encontrar sinais e desvendar os personagens através da lente cinematográfica, como Wilfrid através de seu monóculo, simplesmente baseado em suas convicções anteriores: o contrato entre cinema clássico e espectador de que, a qualquer momento do filme, o público teria sempre o ângulo verdadeiro do que está acontecendo; as características das estrelas se confundem e misturam com os personagens que interpretam, cujas ações e falas revelam suas reais motivações.

Mas o que a câmera de Wilder evidencia é a ineficácia e ingenuidade desse olhar. O filme acaba sendo uma metáfora das limitações do olhar clássico sobre os personagens, ao achar que, narrando suas ações, é possível apreender algo sobre suas verdadeiras identidades. Como na vida real, com pessoas reais, em que isso não é possível, também não é ‘realístico’ no cinema. A luz que o cinema clássico lança sobre seus personagens, como a luz que o advogado lançava com seu monóculo, é inútil. Ao invés de estar atento às falas e ações, o espectador, para realmente desvendar esses personagens, deve olhar além do que está acostumado a ver. Como o próprio Wilfrid desconfia, “isso é muito arrumado, muito arranjado, e inteiramente simétrico demais”.

O declínio do modelo clássico hollywoodiano não se deve exclusivamente a mudanças econômicas ou à crise do sistema de estúdios. As mudanças de mentalidade do público americano, que havia perdido um pouco de sua ingenuidade e tornado-se mais aberto e consciente às demais tendências mundiais, foram gradativamente afastando o espectador do contato que costumava ter com a forma como Hollywood contava suas histórias e retratava seu imaginário. Seus conflitos e alegrias já não eram mais aqueles representados nas telas.

O fim do período Clássico Hollywoodiano pode ser visto como o coroamento e desfecho do período industrial nos Estados Unidos. De “O Nascimento de uma Nação” (D. W. Griffith, 1915) a “Como era verde o meu vale” (John Ford, 1941), passando por “Tempos Modernos” (Charlie Chaplin, 1936), “I Love Lucy” e “Os Jetsons”, a produção audiovisual americana narrou e refletiu os desafios, sacrifícios, perplexidades, benefícios e alegrias da era industrial, da mesma forma como as perturbações provocadas pela transição da sociedade agrária para a sociedade urbano-industrial foi documentada em um trabalho pioneiro do cinema – Metrópolis (Fritz Lang, 1927).

À medida que foi ficando claro que essa sociedade havia se transformado em uma sociedade pós-industrial, ficou também claro que essa produção audiovisual pertencia a uma outra época, agora extinta. A fragmentação dos gostos, o aumento da renda da população e o barateamento dos meios de produção e distribuição caracterizam a sociedade pós-industrial, e propiciam uma produção muito mais variada, multi-cultural, experimental e auto-reflexiva.

Novas regras para atendimento

Entra em vigor hoje a portaria que regulamenta o decreto presidencial 6.523, de 31 de julho, que estabeleceu novas regras para atendimento, em setores regulados:
  • energia elétrica,
  • telefonia,
  • televisão por assinatura,
  • planos de saúde,
  • aviação civil,
  • empresas de ônibus,
  • bancos e cartões de crédito fiscalizados pelo Banco Central.
As empresas que descumprirem as regras estarão sujeitas a multa de R$ 200 a R$ 3 milhões de reais, conforme prevê o Código de Defesa do Consumidor.

Veja abaixo as regras:

Tempo de espera
A regra geral é que o consumidor não espere mais do que um minuto até o contato direto com o atendente, quando essa opção for selecionada.

Casos específicos
Energia Elétrica - segue a regra geral de, no máximo, um minuto de espera. O tempo de atendimento só poderá ser maior no caso de atendimento emergencial que implique a interrupção do fornecimento de energia elétrica a um grande número de consumidores, provocando elevada concentração de chamadas.

Horário de funcionamento
A regra geral é o funcionamento durante 24 horas, sete dias por semana. O texto garante o acesso do consumidor ao fornecedor sempre que o serviço esteja sendo oferecido ou possa ser contratado pelo consumidor.

Poderá haver interrupção do acesso ao SAC quando o serviço ofertado não estiver disponível para contratação.

O que mudou
  • A empresa deve garantir, no primeiro menu eletrônico e em todas suas subdivisões, o contato direto com o atendente.
  • Sempre que oferecer menu eletrônico, as opções de reclamações e de cancelamento têm de estar entre as primeiras alternativas.
  • No caso de reclamação e cancelamento, fica proibida a transferência de ligação. Todos os atendentes deverão ter atribuição para executar essas funções.
  • As reclamações terão que ser resolvidas em até cinco dias úteis. O consumidor será informado sobre a resolução de sua demanda.
  • O pedido de cancelamento de um serviço será imediato.
  • Deve ser oferecido ao consumidor um único número de telefone para acesso ao atendimento.
  • Fica proibido, durante o atendimento, exigir a repetição da demanda do consumidor.
  • Ao selecionar a opção de falar com o atendente, o consumidor não poderá ter sua ligação finalizada sem que o contato seja concluído.
  • Só é permitida a veiculação de mensagens publicitárias durante o tempo de espera se o consumidor permitir.
  • O acesso ao atendente não poderá ser condicionado ao prévio fornecimento de dados pelo consumidor.
  • O cidadão que não receber o atendimento adequado poderá denunciar ao Sistema Nacional de Defesa do Consumidor (SNDC), Ministérios Públicos, Procons, Defensorias Públicas e entidades civis que representam a área.