Tuesday, May 20, 2008

Nosso Amigo em Kathmandu

Como quase tudo na minha vida, meu gosto por sites é fortemente influenciado (contaminado?) pelos meus interesses e minha vida profissional – não sou muito bom em separar vida pessoal e profissional. Talvez por isso, um site em que sou bem ativo é o www.ask500people.com.

O Ask500People é um site de pesquisas ininterruptas, pela Internet. Você e dezenas de outras pessoas postam perguntas de múltipla escolha, que vão recebendo votos dos usuários, como você. As perguntas mais votadas vão subindo na “fila”, até que são “lançadas”. Então, pessoas de todo o mundo começam a responder à sua pergunta. Mais recentemente, passou a ser possível votar nas perguntas, enquanto elas ainda estão na fila.

Eu acho a coisa muito cool – você bola uma pergunta, pessoas julgam se ela é interessante, sua pergunta vai “ao ar” e centenas de pessoas ao redor do mundo tiram a dúvida que você tinha sobre como elas são, o que elas pensam, sentem, desejam, temem. Eu já teria ficado viciado na brincadeira, se a primeira versão beta do site não fosse bastante lenta. Agora não é mais e o risco de que eu gaste muitas preciosas horas de meus finais de semana ou noites, brincando de perguntar coisas às pessoas aumentou.

Outra coisa que melhorou muito é o número de respostas. Apesar dos 500, do nome, no começo a votação se encerrava quando chegava a 100 respostas. Agora, com a progressiva popularização do site, muitas perguntas estão chegando perto de receber as 500 respostas desejadas.

Além da real limitação do tamanho da amostra, no começo, eu também desconfiava do perfil dos respondentes: “Humm...”, eu pensava. “Com certeza, amostra viezada – deve ser uma garotada, ou uns computer geeks”. Então postei a pergunta: “Como você se define?”.

Surpresa: 56% dos usuários, ao redor do mundo, têm mais de 30 anos. Heavy-users de Internet, realmente são: 71%. Mas, mesmo entre esses, 62% têm mais de 30 anos.

OK. Então são pessoas maduras, bastante conectadas à Web. Minha próxima pergunta foi mais ousada: “Eu...

...nunca me encontrei com alguém que conheci através da Internet” – 44%

...me encontrei com várias pessoas que conheci via Internet” – 27%

...fiz sexo com alguém que conheci na Internet” – 19%

...casei com alguém que conheci na Internet” – 10%

Uau! Um em cada dez casou-se com alguém que conheceu via Web! Considerando que 32% dos usuários não são casados (segundo verifiquei por outras perguntas), na verdade o número de “casados via web”, entre os casados, é praticamente 1 em cada 7. Será verdade?

Consultando o livro “Microtrends”, do especialista em pesquisas americano Mark J. Penn, descubro (no capítulo “Internet Marrieds”!) que cerca de um em cada 43 casamentos americanos, realizados em 2007, foram de casais que se conheceram pela Web. Se o número de casais-web estiver dobrando a cada ano, há mais um casal, nesses 43, casado antes de 2007. Isso nos leva a um número de 1 casal-web em cada 21 ou 22 casais americanos. Um em cada 7 a 10, na população dos usuários Ask500People não parece, portanto, desarrazoado.

Não que o pessoal seja todo americano. A maioria é, principalmente nas perguntas que “vão ao ar” em horários em que a Europa está dormindo, quando as respostas de americanos podem chegar a quase 80%. E as diferenças nas respostas de diferentes países, como não podia deixar de ser, muitas vezes são marcantes.

Por exemplo, certa vez perguntei: “Você tem que escolher entre dois vinhos, de mesmo preço e da mesma variedade (digamos, Merlot). Qual você escolhe? Um excelente vinho, de um grande produtor global, ou um vinho muito bom (mas não excelente), de um produtor tradicional, de terroir”.

Como era de se esperar, todos os franceses e alemães disseram que escolheriam o vinho de terroir. Americanos e ingleses foram menos unânimes, mas cerca de 55% também escolheriam o vinho tradicional. Já na India, a tendência é oposta: dois terços prefeririam o “vinhão” globalizado. Já em países como Canadá, Egito e Arábia Saudita, o pessoal radicaliza: todos os respondentes escolheriam o “vinhão”. Talvez o pessoal desses países, de clima também “radical”, não tenham muito apreço pela idéia de “terroir”.

Uma outra pergunta (essa não foi minha) que também revelou diferenças regionais interessantes foi: “Você é mais cândido com alguns amigos on-line, do que com seu/sua melhor amigo(a), parceiro(a) ou esposa(o)?”.

Mais de 70% dos americanos, franceses e canadenses e mais de 60% dos ingleses e japoneses disseram que não (algo me diz que, os franceses, por uma razão diferente dos demais...). Os coreanos ficaram no meio-a-meio. Nós, brasileiros, nossos vizinhos argentinos e os italianos já viramos para o outro lado: cerca de 60% de nós “nos abrimos” mais on-line do que ao vivo. Aí os mexicanos, marroquinos, argerianos e outros “vão para as cabeças” – 90% a 100% soltam a língua, mesmo, é na web.

E o que esse universo de interneteiros globais, maduros mas modernos, de idéias liberais mas comportamento um tanto conservador, pensa do Brasil? Perguntei (e essa foi minha pergunta que recebeu mais votos, para “ir ao ar”): “Brasil é...

...um país significativo, no concerto das nações (redação deliberadamente pretenciosa) – espantosos (pelo menos para mim) 48% optaram por essa resposta.

Em compensação, 37% responderam que “não têm idéia do que é ou onde fica o Brasil” (13%), ou que “o Brasil é um país marginal e sem importância” (24%).

E os 15% restantes? Esses responderam que o Brasil “é um lugar onde gostariam de viver”.

Apesar de um terço dos coreanos desejar viver no Brasil, metade não sabe onde ficamos e o restante nos considera um país sem importância. Já a metade dos canadenses e australianos – e 51% dos americanos – nos consideram muito importantes (o único argentino que respondeu, também).

E, então, tem essa pessoa em Kathmandu, no Nepal. Será um homem? Uma mulher? Não tenho como saber, mas uma coisa eu sei: ele ou ela gostaria de viver no Brasil.